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Aug 15, 2023

Projeto de Denúncia de Crime Organizado e Corrupção

Em 5 de junho de 2022, o jornalista britânico Dom Phillips e seu guia brasileiro Bruno Pereira desapareceram no Vale do Javari, no Brasil, na Amazônia. Os repórteres investigaram as gangues de pescadores ilegais que se acredita estarem por trás de suas mortes.

Dom Phillips fotografado por Bruno Pereira, dois dias antes do assassinato, enquanto conversava com "Caboco", um pescador ilegal do Vale do Javari, na Amazônia. (Foto: TV Globo/Globoplay)

Empoleirado em uma pilha de tábuas de madeira às margens do rio Itaquaí, no Vale do Javari, no Amazonas, Dom Phillips escuta atentamente. Ao lado dele, um pescador ilegal da região fala com animação, gesticulando para algo fora do enquadramento da imagem.

A fotografia é uma das últimas tiradas de Phillips, um jornalista ambiental que estava no vale pesquisando um livro sobre como salvar a floresta amazônica. Dois dias após a captura, ele e Bruno Pereira, especialista em povos indígenas do Brasil, foram baleados enquanto estavam no rio.

Cinco homens teriam sido acusados ​​pelos assassinatos em dois casos separados. De acordo com as acusações, eles supostamente pertenciam à mesma quadrilha de pesca ilegal do homem retratado com Phillips, conhecido como "Caboclo". (Os repórteres não conseguiram contatá-lo para comentar.)

A foto, tirada de um dos telefones de Pereira, ficou quase enterrada no coração da Amazônia brasileira para sempre.

Seus colegas de patrulha da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) encontraram o telefone quatro meses após sua morte, quando vasculhavam a área em busca de pistas com um detector de metais. O dispositivo, que estava enterrado sob uma pilha de lama e gravetos, estava tão danificado que levou meses para extrair os dados.

A equipe de vigilância da Univaja em busca de provas após os assassinatos. (Foto: TV Globo/Globoplay)

"O telefone passou meses na água antes de o nível do rio baixar", disse Sônia Bridi, uma jornalista que estava lá na época fazendo um documentário sobre os assassinatos para a plataforma brasileira de streaming Globoplay.

O telefone foi entregue à polícia, que usou fotos e metadados extraídos do aparelho para reconstruir os últimos momentos da vida de Phillips e Pereira.

As fotografias também foram confiadas ao "Projeto Bruno e Dom", uma investigação colaborativa liderada pela organização sem fins lucrativos francesa Forbidden Stories. Mais de 50 repórteres continuaram as investigações de Pereira e Phillips sobre a destruição da Amazônia, desde a grilagem de terras e os laços da pecuária com o desmatamento, até a mineração ilegal e a pesca ilegal.

No ano passado, a polícia prendeu três pescadores acusados ​​de matar os dois homens, embora o julgamento ainda não tenha começado. O advogado deles negou que tivessem cometido o assassinato, dizendo que Pereira abriu fogo primeiro.

No fim de semana, surgiram relatos de que outros dois homens haviam sido indiciados no segundo caso, incluindo o suposto mandante dos assassinatos, Ruben Dario da Silva Villar. Também conhecido como "Colômbia", ele é acusado de ser o líder da quadrilha de pescadores ilegais que matou Phillips e Pereira. Seu advogado não respondeu aos pedidos de comentários.

Cartão de imprensa de Dom Phillips, encontrado pela equipe de vigilância da Univaja quase quatro meses após sua morte. (Foto: TV Globo/Globoplay)

Alessandra Sampaio, viúva de Phillips, disse que responsabilizar os assassinos enviaria uma mensagem poderosa de que os grupos do crime organizado que estão destruindo a Amazônia não podem operar impunemente.

“Eu quero justiça, mas não para mim: para a proteção do Vale do Javari e da Amazônia”, disse ela.

Foi no Vale do Javari – uma região tão grande quanto a Áustria, na fronteira oeste do Brasil, que abriga a maior concentração de indígenas do país – que Phillips e Pereira se conheceram em 2018.

Pereira trabalhava para o governo coordenando as relações com as tribos amazônicas isoladas, inclusive aquelas que só recentemente tiveram contato com o mundo exterior, e conhecia bem a região. Os dois homens mantiveram contato após a viagem, e Pereira concordou em guiar Phillips quando ele voltasse ao Vale do Javari no ano passado.

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